Sempre fui metido a ser artista e, pra ser sincero, a maior parte da vida isso me constrangeu. Primeiro que não pegava bem, coisa de gente desajuizada, segundo, que direito eu tinha? É coisa de quem tá querendo ser – era o diagnóstico. Ah lá o menino, querendo ser. Dessas coisas de artista meu pai tinha um nome: brincadeira sem futuro. Ah lá o menino, cas brincadeira sem futuro.
Querendo ser de cantar, de imitar ator, de imitar os bicho, de desenhar cidade com bloco vermelho no chão do quintal e inventar uma história pra cada pessoa, que na verdade eram pedrinhas que eu riscava uns quadrados em volta e chamava de casas. Quer dizer, eu não só tinha o problema de querer ser, como ainda inventava de querer que as coisas sejam.
Isso de querer que as coisas sejam é donde vem as artes tudo. Nesse ponto todo mundo tem um lado metido a artista. Basta dizer que o amor é uma brincadeira sem futuro. Aliás, o futuro é um lugar pros economistas e pras baratas (não necessariamente nesta ordem). Se bem que pode não ser, porque como disse, tem gente, muita gente, ainda querendo que as coisas sejam. Vai saber.
Um dia eu descobri um novo chão de quintal, se chama livro. Ali dá pra botar toda sorte de brincadeira sem futuro e, por falar nisso, se chama “Os Dias Antes de Nenhum” o meu segundo que será lançado muito, muito, muito em breve.
Torço pra que vocês visitem o próprio quintal de vez em quando, torço pra que ainda queiram ser e torço pra que ainda queiram que as coisas sejam.
Ricardo Terto