Literatura indígena. Quando os europeus chegaram no continente, a maior parte das culturas eram ágrafas, muitas ainda são, e lembro das palavras do xamā Davi Kopenawa, que chama os livros de peles de árvores mortas. Para Kopenawa, nós matamos árvores com o intuito de gravar ali o que nossa memória inepta não é capaz de lembrar. Me pergunto, o que será a literatura indígena?
Talvez antes seja necessário pensar nas semelhanças e diferenças entre os tantos povos indígenas. Como comparar os Guarani, que resistem em grandes cidades como Rio e São Paulo, e etnias no mais profundo da Amazônia sem quase nenhum contato com a civilização “branca”?
Mas talvez antes mesmo de começar estes questionamentos seja importante se fazer uma outra pergunta: o que é literatura? Costumamos associá-la à palavra escrita, como se esta fosse a única possibilidade. Gosto de imaginar que literatura é toda linguagem metafórica, toda linguagem simbólica: nosso corpo, uma árvore, um sonho, todo gesto de interpretação a partir deles é literatura. Um corpo que dança é literatura, a adivinhação do formato de uma nuvem. O filho que cresce no útero pode ser literatura. A voz que já não sai da garganta um homem, uma planta que perdeu as flores, um rio, um vulcão.
Carola Saavedra – O Mundo Desdobrável