A vida não se interessa pelo bem nem pelo mal. Dom Quixote estava sempre escolhendo entre o bem e o mal, mas fazia essas escolhas no seu estado de sonho. Ele era maluco. Só entrava na realidade quando estava tão ocupado tentando lidar com as pessoas que não tinha tempo de distinguir entre o bem e o mal. Como as pessoas só existem na vida, precisam dedicar seu tempo apenas a estarem vivas. A vida é movimento, e o movimento está ligado àquilo que faz com que o homem se movimente — que é a ambição, o poder, o prazer. O tempo que um homem pode dedicar à moralidade, ele sempre o terá de arrancar à força do movimento do qual faz parte. Ele é compelido a fazer escolhas entre o bem e o mal, cedo ou tarde, porque a consciência moral exige isso dele, para que ele possa continuar a viver consigo mesmo no dia seguinte. Sua consciência moral é a maldição que ele tem de aceitar dos deuses, a fim de obter deles o direito de sonhar.

William Faulkner – Entrevista à Paris Review – A arte da ficção 12

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