A Vida da Bruxa

Tradução de Ana Santos

Quando eu era criança
havia uma velha em nosso bairro
a quem chamávamos A Bruxa.
O dia todo ela espiava da sua janela no segundo andar
por trás das cortinas enrugadas
e às vezes abria a janela
e gritava: Saiam da minha vida!
Seu cabelo era como alga
e sua voz como rocha.

Penso nela às vezes
e me pergunto se é nela que me transformo.
Meus sapatos apontam para cima como os de um bufão.
Montes do meu cabelo, enquanto escrevo isto,
enrolam-se sozinhos feito dedos.
Lanço as crianças para fora,
pá por pá.
Só meus livros me ungem,
e alguns amigos,
os que penetram minhas veias.
Talvez esteja virando eremita,
abrindo a porta apenas para
uns poucos animais especiais?
Talvez meu crânio esteja demasiado cheio
e não tenha uma brecha através da qual
possa tomar sopa?
Talvez eu tenha fechado as cavidades
para prender os deuses?
Talvez, embora meu coração
seja um gato de manteiga,
eu o esteja inflando como a um zepelim.
Sim. É a vida da bruxa,
escalar a primordial escalada,
um sonho dentro de um sonho,
e então sentar-me aqui,
um cesto de fogo nas mãos.

Anne Sexton