W.K., Lublin
Por enquanto suas observações têm caráter puramente particular–dizem respeito a pessoas e ambientes delineados de forma tão nebulosa e fragmentada que não conseguiriam prender a atenção do leitor. Aliás, não entendemos bem por que na carta para a redação o senhor fala em «mania de escrever», como se fosse uma doença vergonhosa que é preciso forçosamente curar o mais rápido possível. Não há nada de anormal na necessidade de anotar seus pensamentos e vivências; pelo contrário, é uma manifestação natural da cultura literária pessoal, o que se aplica, afinal, não só aos escritores, mas, em geral, a todas as pessoas cultas! Quando lemos publicações de antigos cadernos de memórias ou cartas, ficamos admirados com o brilho da excelente forma literária dessas confissões – escritas com frequência por pessoas que não eram literatas nem tencionavam ser… Hoje, basta a pessoa escrever algumas paginazinhas e ela já se pergunta quanto vale aquilo, já lhe atormentam pensamentos sobre a publicação e ela deseja saber se vale a pena «perder seu tempo»… É triste que cada frase formulada de maneira mais ou menos graciosa deva imediatamente valer a pena. E se for valer a pena só daqui a dez ou vinte anos? Ou se nunca chegar a valer a pena no sentido público, mas, em vez disso, ajudar o escritor nos momentos mais difíceis e enriquecer sua própria individualidade? Isso não serve de nada?
Wisława Szymborska – Correio Literário página 31